sábado, 3 de outubro de 2009

Para atrair leitores, livro híbrido vem com baterias e vídeo

Por mais de 500 anos o livro foi notavelmente uma entidade estável: fileiras de palavras conectadas coerentemente, impressas em papel e limitada pelas dobras.

NYT
Obra de Richard Doetsch, "Embassy", com complementos em vídeos
Mas na era do iPhone, Kindle e YouTube, a noção de livro está se tornando cada vez mais flexível conforme editoras misturam características de texto, vídeo e web em uma disputa para manter os leitores  interessados nessa forma arcaica de entretenimento.

Nesta quinta-feira, por exemplo, a Simon & Schuster, editora de Ernest Hemingway e Stephen King, está trabalhando com uma parceria multimídia para introduzir quatro novos lançamentos chamados “vooks” (book, de livro, e v, de vídeo), que intercala vídeos ao longo de um texto eletrônico que pode ser lido – e visto – online ou em um iPhone ou iPod Touch.

E, no começo de setembro, Anthony E. Zuiker, criador da série de televisão “CSI”, divulgou o “Level 26: Dark Origins”, um romance – publicado nas versões em papel, e-book (livro eletrônico) e áudio – na qual os leitores são convidados a entrar em um website a cada cinco capítulos para assistir vídeos curtos que representam a parte lida.

Algumas editoras dizem que este tipo de multimídia híbrida é necessário para atrair leitores modernos que desejam algo diferente. Mas especialistas em leitura questionam se o fato de perder tempo com os parâmetros dos livros não acabam degradando o ato de ler.

“Não há dúvida de que essa nova mídia será magnífica para envolver e atrair o leitor”, disse Maryanne Wolf, professora de desenvolvimento da criança na Tufts University e autora de “Proust and the Squid: The Story and Science of The Reading Brain”. Mas, acrescentou, “você ainda consegue ler Henry James ou George Eliot? Você tem paciência?”

A forma mais óbvia com a qual a tecnologia modificou o mundo da literatura foi o livro eletrônico. No último ano, estruturas como o “Kindle and Sony´s Reader” da Amazon ganhou popularidade. Mas as edições digitais exibidas neles permanecem em sua maioria fiéis à ideia tradicional de livro, usando palavras – e imagens ocasionais – para contar uma história ou explicar um assunto.

Os novos híbridos oferecem muito mais. Em um dos vooks da Simon & Schuster, um título sobre dieta e condição física, os leitores podem clicar em vídeos que mostram como realizar os exercícios. Um livro de beleza contém vídeos que mostram como fazer misturas caseiras para cuidar da pele.

Não só os “Como fazer” que estão se tornando obras em movimento. A Simon & Schuster também está lançando dois romances digitais combinando texto com vídeos de um minuto ou 90 segundos que complementam – e, em alguns casos, prosseguem – a narrativa da história.

Em “Embassy”, um suspense curto sobre o sequestro escrito por Richard Doetsch, um vídeo parecido com um noticiário revela que a vítima é o filho do prefeito, substituindo uma parte do texto original de Doetsch.
“Todo mundo está tentando pensar sobre o quanto os livros e a informação serão colocadas de forma melhor no século 21”, disse Judith Curr, editora da Atria Books, impressão da Simon & Schuster que está lançando edições eletrônicas em parceria com a Vook, empresa de multimídia. Ela acrescentou: “você não pode mais simplesmente ser linear com seu texto”.

Em alguns casos, tecnologias de rede social permitem conversas entre os leitores que irão influenciar como os livros são escritos.

A divisão de crianças da HarperCollins recentemente lançou a primeira série de mistério infanto-juvenil chamada “The Amanda Project”, e convidou leitores a discutir pistas e personagens em seu website. Conforme a série continua, alguns dos comentários dos leitores podem ser incorporados a personagens menos importantes ou em tramas menores.

Alguns autores acreditam que as novas tecnologias podem enriquecer os livros. O diretor da Biblioteca da Universidade de Harvard, Robert Darnton, irá incluir em sua história sobre as músicas de rua do século 18 na França links para gravações das melodias verdadeiras.

Mas Darnton, autor de “The Case for Books: Past, Present and Future” (O processo dos livros: passado, presente e futuro, em tradução livre) advertiu que a própria leitura estaria mudando, e não necessariamente para menor. “Eu acho que já podemos ver o suficiente para nos preocuparmos com a perda de certo tipo de leitura contínua, disse ele.

Doetsch, autor de “Embassy”, disse que novas edições não deveriam substituir o livro tradicional. Ele disse estar escrevendo um romance “The Thirteenth Hour”, que ele pensa ser longo demais para prestar-se ao formato com vídeo. As novas edições, disse ele, são “como romances mergulhando e saindo de uma piscina de movimentos e voltando a ela de tempos em tempos”.

Alguns autores zombam a ideia de misturar os dois meios. “Como escritor, eu nunca, de maneira alguma” permitiria que vídeos substituíssem a prosa, disse Walter Mosley, autor de “O Diabo Veste Azul” e outros romances.

“Ler é uma das poucas experiências que temos fora das relações nas quais nossas habilidades cognitivas crescem”, disse Mosley. “E, na verdade, nossas habilidades retrocedem quando estamos assistindo televisão ou mexendo no computador”.

Por MOTOKO RICH

Fonte: IG 

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